Por Pedro Bassan e Amanda Prado, G1 Rio
A reserva biológica do Tinguá, responsável pelo sistema Acari da Cedae, que abastece sobretudo a Zona Norte do Rio, está na mira de uma polêmica. Na próxima semana, uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, vai discutir a proposta de transformar a reserva em um parque nacional.
A principal diferença entre os modelos é que, na condição atual, de reserva, a visitação é proibida e apenas pequenos grupos de estudantes e pesquisadores recebem autorização para visitar no local. Como parque nacional, muitos turistas passariam a ter acesso.
A 60 quilômetros do Rio, a imensa área de Mata Atlântica preserva 12 espécias ameaçadas. A área se estende pelos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e sobe a serra até Miguel Pereira e Petrópolis.
A bióloga Soraya Vieira mora em Tinguá e é contrária à proposta.
“O plano para que se torne parque abrange 5% da reserva e esses 5% estão dentro das áreas de captação do entorno. São 30 áreas aproximadamente de captação de água da Cedae dentro da reserva. E, no plano, está incluído o banho. Nós não podemos ter pessoas tomando banho dentro dessa água, que é distribuída para boa parte do estado do Rio de Janeiro”, aponta.
Helio Vanderlei, superintendente de Áreas Verdes do município de Nova Iguaçu, é favorável à mudança, por acreditar que ela pode trazer investimentos privados para a região.
“O parque nacional é um indutor do desenvolvimento sustentável para o entorno. Tinguá já recebe turistas. O que nós precisamos é qualificar o espaço urbano para ter melhor atendimento ao turista”, defende ele. No entanto, atualmente, esses turistas ficam no entorno de reserva e não dentro dela.
“Toda unidade de conservação, seja de qual categoria for, tem o plano de manejo, que vai definir as áreas. As áreas intangíveis, as de pesquisa, de captação de água e distribuição para a sociedade e a área da trilha. Centro de visitação, portarias e você vai estabelecer a capacidade de suporte, quantos visitantes podem entrar naquela unidade de conservação num dia de sol”, diz ele.
Repleto de belezas naturais, Tinguá sofre com abandono
Apesar de ter as características de um paraíso natural, Tinguá sofre com problemas urgentes: falta à região, por exemplo, tratamento de esgoto. A poucos metros do começo da reserva ambiental, o rio já começa a ficar poluído.
O morador César, que conhece a região desde os tempos da Maria Fumaça, não acredita que o parque possa sanar os problemas da região.
“Os governantes municipais, estaduais, e federais têm que fazer primeiro o trabalho de casa. Temos equipamentos turísticos que têm que ser restaurados. Temos a Fazenda Velha, a Estrada Real do Comércio. Temos o Porto do Iguaçu e temos as estações. Para se discutir parque, primeiro temos que despoluir os rios. Rios despoluídos trazem turismo pra nossa região. A prefeitura tem que melhorar o acesso e a infraestrutura de transporte, as estradas. Não temos posto 24 horas. Então, nós queremos que primeiro haja um choque de infraestrutura na nossa região nos bairros”, defende.
A Prefeitura de Nova Iguaçu informou que defende um debate amplo sobre o assunto e que vai apoiar a decisão que a maioria dos moradores achar melhor. A produção do RJ2 procurou o Ministério do Meio Ambiente, mas não recebeu resposta.
Audiência em Brasília
Esta semana a proposta de transformação da reserva biológica em parque deve ser levada à Câmara dos Deputados, em Brasília, para uma audiência pública. A iniciativa partiu do instituto Ecopreservar, sediado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Técnicos da organização não-governamental enviaram ao Ministério do Meio Ambiente um relatório com fotografias da reserva do Tinguá e argumentos para a possível mudança para parque.
Os técnicos ressaltaram que a reserva é um patrimônio histórico e cultural, com importantes espaços que as pessoas deveriam ter a chance de conhecer. Entre eles, a estrada de ferro Rio D’ouro , Estrada Real do Comércio e Igreja Santana das Palmeiras.
Sobre o Caminho do Imperador, por exemplo, eles dizem que é um “ponto ocultado da população localizado no interior da reserva e que tem extrema relevância na história do Brasil”.