Witzel agora diz ser obcecado por privatizar

Estadão Conteúdo

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o “choque de energia barata” buscado pelo governo, que pretende reduzir o preço das tarifas residenciais e empresariais, tem capacidade para promover uma reindustrialização do Brasil.

“A energia barata pode permitir reindustrializar o País. Podemos conseguir mais 10% de PIB, Produto Interno Bruto, industrial ao final de dez anos”, discursou Guedes para empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). “A própria Vale falou que se cair o preço da tarifa eu compro 30 anos de energia”, comentou.

Witzel defende privatização

Presente ao evento, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, complementou a defesa de Guedes sobre redução de tarifas e privatizações.

“Sou obcecado por energia barata, sou um dos maiores obcecados por privatizar”, afirmou o governador, dizendo que avançará com a privatização da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) assim que for concluída a mudança no marco regulatório do setor.

Queda no preço do gás

Segundo o ministro, um estudo feito pelo economista Carlos Langoni – diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas e conselheiro informal de Guedes – aponta que o preço do gás pode cair em 40% em dois anos.

Guedes comemorou algumas boas notícias dos primeiros sete meses de governo, como avanços em negociações internacionais e acerca da cessão onerosa, além da queda nos juros, medidas em prol da competitividade e liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

“Ao contrário de Temer, que soltou só contas inativas, estamos soltando também as ativas”, ponderou Guedes. “A gente não quer atingir a construção civil. Calculamos o limite de saque exatamente para não pegar a construção civil”, completou.

Moradores de Macaé, RJ, aprovam tarifa zero de água e passagem a R$ 1

Por G1 — Região dos Lagos

A população de Macaé, no interior do Rio, aprovou neste domingo (28) a municipalização dos serviços de abastecimento e transporte público, com a tarifa zero de água e a passagem a R$ 1. A decisão foi tomada por meio de uma consulta pública. No total, 1.381 macaenses votaram e participaram da ação, de acordo com a Prefeitura.

A votação foi manual e foi realizada em 42 seções, das 8h e 17h. O processo seguiu as regras do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e foi acompanhado pelo Juiz Sandro de Araújo Lontra, responsável pela 3ª Vara Cível e pela 109ª Zona Eleitoral da cidade.

De acordo com a Prefeitura, 85% da população são favoráveis à municipalização da água e 90% dos moradores aprovam a integração do VLT no transporte público.

Sobre a municipalização da água, 1.110 pessoas votaram a favor e 186 contra; em relação à tarifa zero de água, 1.134 moradores foram a favor e 204 contra; sobre a passagem a R$ 1, 1.230 pessoas votaram a favor e 99 contra; em relação à integração do VLT, 1.182 moradores foram a favor e 129 contra.

Segundo a Prefeitura, estavam aptos para participar da consulta todos os 159.014 eleitores registrados na cidade. O número foi consolidado pelo Tribunal Regional Eleitoral (junho/2019).

Ainda de acordo com a Prefeitura, três dos quatro pontos aprovados pela população já são cumpridos na cidade, com exceção da integração do VLT, que que só irá depender de uma nova licitação e edital para a concessão do transporte público.

Nota Cedae

Procurada sobre o assunto, a Cedae, concessionária de água que atendia a cidade antes da municipalização, disse que dos processos judiciais em curso, foram deferidas liminares que suspenderam os efeitos de quaisquer atos normativos editados pelos Poderes Executivo e Legislativo Municipais que tenham por objetivo a retomada da concessão.

A Cedae disse ainda que a consulta pública realizada no último domingo (28) revela descumprimento das citadas decisões judiciais.

A empresa ressaltou ainda que a cidade tem cerca de 160 mil eleitores e pouco mais de mil eleitores participaram da consulta pública. De acordo com a Cedae, o resultado da consulta levada em consideração pelo município não pode ser considerada representativa da vontade popular.

Em entrevista ao RJ1 desta segunda-feira (29), o prefeito Aluízio Junior (MDB) disse que não houve qualquer descumprimento.

Cedae entra na Justiça pedindo suspensão de decreto e lei municipal, que torna Poder Executivo de Macaé responsável pelo abastecimento de água

Às vésperas do plebiscito para decidir ou não pela municipalização da água em Macaé, no próximo dia 28, um dia antes do aniversário da cidade, a Nova  Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgoto) do Rio de Janeiro, entrou com recurso na Justiça, no último dia 08, pedindo suspensão  da Lei Municipal   4.562/2019 e do Decreto Municipal nº 053/2019. A lei autoriza o município de Macaé a encampar (tomar posse) dos serviços públicos de abastecimento e fornecimento de água, prestados pela concessionária estadual, e a tarifa zero à população.

No dia 24 de abril deste ano, a Câmara Municipal de Macaé aprovou a lei. Em Maio, a Prefeitura de Macaé informou que o decreto e a lei municipal atendem à decisão da Justiça, assim como parecer do Ministério Público Estadual, que corroborou a necessidade de municipalização do abastecimento na cidade, já que a Nova Cedae não executou medida concreta para regularizar o serviço.

Segundo o desembargador Carlos Eduardo Moreira da Silva, o pedido de anulação, por meio da ação judicial, se faz necessário até o julgamento do recurso, que tramita na 3ª Vara de Fazenda Pública da Comarca do Rio de Janeiro.

Na ação judicial, a Nova Cedae alega que o Poder Executivo de Macaé vem adotando medidas práticas a fim de efetivar a encampação (tomada de posse, pela administração pública, de uma empresa privada mediante compensação) e editou o decreto como o “nítido” propósito de prejudicar a concessionária, ao proibir a cobrança da tarifa pela prestação do serviço, acreditando que, com isso, atingirá seu objetivo de retomar a concessão sem passar pelo devido processo legal e pelo cálculo da devida indenização.

Serviço municipal está sem garantia, avalia vereador petista Marcel Silvano

O vereador Marcel Silvano (PT) avaliou que o poder público não possui as garantias legais para assumir o serviço de abastecimento de água em Macaé. Para ele, o serviço poderia até piorar, devido também as decisões judiciais que envolvem a Nova Cedae. “Essa postura irresponsável do governo pode piorar ainda mais a vida das pessoas,com menos abastecimento de água, menos investimentos, menos planejamento para investir nas áreas que nós não temos qualquer infra-estrutura para receber água encanada. Eu acho que esta decisão da Justiça, às vésperas de uma consulta pública que o prefeito convocou, e de consulta na verdade não tem nada, pois o governo quer respaldar esta decisão. O governo não chama o povo para consultar, chama o povo para dizer o que o prefeito quer. É só ver nas propagandas que estão sendo veiculadas nos meios de comunicação. Então, acho que é uma postura irresponsável do governo. A Justiça agora toma outra decisão diferente, do que o governo propaga. E nós é quem ficamos neste impasse. Eu alertei isso na Câmara Municipal, juntamente com os outros vereadores da bancada de oposição. Eu lamento, mas vamos esperar o desdobramento da Justiça e vamos esperar também que o governo tenha responsabilidade, sinalize, ao menos, com a maturidade de apresentar um planejamento sólido, concreto, de condições ou não de assumir os serviços de abastecimento de água em Macaé”.

Falhas no serviço expõem a concessionária Cedae

Por Jonas Feliciano – 19/07/2019 – 15h30

Desde o último sábado (14), um vazamento de água preocupava os moradores da Rua Canavieiras, no bairro do Grajaú, na Zona Norte do Rio. Na verdade, o problema ocorria em dois pontos próximos de uma mesma calçada. Até a chegada dos técnicos nesta quarta-feira (17), foram cinco dias para que a empresa aparecesse no local. Entretanto, de acordo com os residentes, o contato já havia sido realizado desde a constatação do problema, e a concessionária teria dado um prazo de 48 horas para a resolução. O período não foi cumprido.

A demora no atendimento gerou o desperdício de uma grande quantidade de água. Assim como, revela a falha no serviço não apenas no bairro, mas em diversos outros pontos da capital. Em vários grupos de bairro no Facebook, usuários apontam problemas semelhantes. Na plataforma Reclame Aqui, nos últimos seis meses, a Cedae já possui um total 1.445 reclamações. Segundo os consumidores, a concessionária também possui uma avaliação ruim.

Nice Carvalho é a presidente da Associação de Moradores do Grajaú. Ela comentou sobre o assunto.

“A Cedae sempre sinaliza alguns indicadores de economia para os seus usuários como manter torneiras fechadas, cuidar de vazamentos, usar a descarga conscientemente. Em contrapartida, nosso bairro nunca sofreu tanto com descompromisso de uma companhia. Vazamentos de água limpa brotam pelas ruas do Grajaú. São verdadeiros rios. Como educar a população, se não respeitam o direito dos moradores? O maior absurdo é a cratera da Rua Comendador Martinelli, onde a Cedae não consegue nem ao menos se afinar com a Prefeitura em um cronograma resolutivo”, lamentou Nice.

Rua Canavieiras  / Imagem: Jonas Feliciano

Vale destacar que as críticas ao serviço da empresa vão além da quantidade de vazamentos espalhados pelo município. Outras falhas como falta de água e cobrança indevida também estão na lista de reclamações. No primeiro semestre deste ano, a concessionária já tem registrado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), 148 processos em 1° instância, 300 reclamações nos Juizados Especiais, oito em Fazenda Pública e mais 11 ações promovidas pelo Ministério Público no âmbito criminal.

Desperdício comprovado

Imagem: Jonas Feliciano


No último painel de saneamento do Instituto Trata Brasil, que foi realizado em 2017, a cidade do Rio de Janeiro consumiu 660.085 metros cúbicos de água. Esse valor revela que, naquele ano, cada pessoa usou 283 litros diários. Além disso, cerca de 5.824.344 pessoas da população total da capital fluminense tinha acesso à água, ou seja, 91,1% dos habitantes. Ainda segundo o mesmo estudo, 32,8% do que foi fornecido acabou sendo desperdiçado. Tais perdas estão relacionadas principalmente com as falhas no abastecimento como, por exemplo, os vazamento nas ruas.

Em junho de 2019, o Trata Brasil revelou que o desperdício de água potável no país seria suficiente para abastecer 30% da população brasileira por um ano. Neste novo estudo, o Instituto mostrou que vazamentos, furtos, erros de leitura do hidrômetro e outros problemas causaram um prejuízo acima de R$ 11 bilhões, em 2017.

O que diz a Cedae

Diante dos dados, a reportagem do Portal Eu,Rio! procurou a CEDAE para tentar esclarecer os motivos que podem dificultar o cumprimento dos prazos estabelecidos inicialmente na resolução de problemas, bem como se a concessionária realiza algum tipo de programação em relação as suas responsabilidades ambientais.

Em nota, a empresa informou que a atual gestão da companhia está atuando e tomando medidas para garantir a melhoria dos serviços prestados para a população. Para isso, notificou, multou e afastou a empresa de manutenção contratada em 2018 que não estava atuando de forma satisfatória.

Ainda segundo a Cedae, desde junho, mais de 500 homens atuam em diversas frentes para resolver o passivo acumulado. A meta é realizar o atendimento de demandas em menos de 48 horas ainda em 2019.

Empresa amada por todos

Por CÁSSIO BRUNO

 

O governo Wilson Witzel mantém prestadores de serviços bem conhecidos dos antecessores Sergio Cabral e Pezão. Um deles é a Investiplan, de equipamentos de informática, cujo dono é Paulo Trindade, amigo do ex-deputado Jorge Picciani.

CEDAE PAGA MAIS DE MEIO MILHÃO

Ontem, por exemplo, a Cedae publicou o pagamento à Investiplan de R$ 663,1 mil, que atendeu a companhia nos últimos seis meses. Detalhe: sem contrato formal, conforme foi informado no Diário Oficial.

Prefeito de Macaé assina decreto declarando nulidade do convênio com a Cedae

A Prefeitura de Macaé declarou a nulidade do contrato de convênio com a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), através de decreto assinado pelo prefeito Dr. Aluizio (sem partido), nesta quarta-feira, 10.

Celebrado em dezembro de 2011 entre a prefeitura e o Governo do Estado do Rio, o convênio de cooperação com a estatal já vinha sendo muito criticado devido à má qualidade dos serviços prestados pela Cedae no município, com diversos casos de reclamação por falta de água.

Nesta segunda-feira, 8, a prefeitura lembrou que a arrecadação da empresa com o município beirava a casa dos 50 milhões de reais, embora os investimentos da Cedae nos serviços de abastecimento e fornecimento de água fossem insuficientes, de acordo com o governo municipal e com a população.

No decreto, de número 088, de 2019, o prefeito se apoia também em uma recomendação do Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) para o rompimento do contrato e em um parecer do mesmo MPRJ em um processo envolvendo da BRK Ambiental, concessionária responsável pelos serviços de tratamento de água e esgoto no município.

“Fica declarado nulo o convênio de cooperação, celebrado entre o município de Macaé, o Estado do Rio de Janeiro e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos – Cedae, cujo objeto é a delegação, pelo município, das atividades de organização e planejamento da prestação dos serviços de abastecimento de água, em 29 de dezembro de 2011”, define o primeiro artigo do decreto assinado nesta quarta-feira.

O assunto foi comentado publicamente pelo prefeito pela primeira vez em março desse ano, em coletiva à jornalistas durante o evento de lançamento da feira Brasil Offshore 2019, em um hotel em Macaé.

O decreto ressalta ainda a responsabilidade de a Secretaria Adjunta de Saneamento, ligada à Secretaria de Infraestrutura, de proceder com o processo de avaliações e liquidações necessárias para indenizar a Cedae pelos investimentos que a empresa já tenha feito e por prejuízos que venham a ser causados no processo de encampação, quando a administração pública toma posse de uma empresa privada mediante compensação financeira.

A medida já havia sido aprovada pela Câmara Municipal e passará pelo crivo da população no próximo dia 28, véspera do aniversário de 206 anos da emancipação da cidade, quando a prefeitura promoverá um plebiscito da tarifa zero dos serviços de água na cidade.

A cobrança das tarifas, de responsabilidade da BRK Ambiental, segue suspensa pela prefeitura, gerando, segundo a gestão municipal, uma economia de 200 reais em 3 meses para cada família dos cerca de 41 mil imóveis ligados à rede de água na cidade.

O plebiscito acontece no último domingo deste mês, no Centro de Convenções Jornalista Roberto Marinho, das 8h às 17h, e para votar, os moradores devem estar munidos do título de eleitor, e de um documento com foto.

Cedae demite advogado

Por CÁSSIO BRUNO

 

Não durou um mês a passagem do advogado Rodrigo Aires Bravo pela assessoria jurídica da Cedae. Acusado de agressão contra uma vendedora de quiosque em 2017 e com passagem por uma clínica de reabilitação química, Bravo foi dispensado.

Privatização do saneamento já se mostrou inadequada em muitos países, diz relator da ONU

Segundo estudo citado pelo relator das Nações Unidas para água e saneamento, o brasileiro Leo Heller, nos últimos 15 anos houve ao menos 180 casos de reestatização do fornecimento de água e esgoto em 35 países, em cidades como Paris (França), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Budapeste (Hungria), La Paz (Bolívia) e Maputo (Moçambique).

As quebras ou não renovações dos contratos ocorreram por falhas das empresas em atingir metas de universalização, além de problemas com transparência e dificuldade de monitoramento do serviço pelo setor público.

O Brasil tem 40% de sua população sem acesso adequado à água e 60% sem acesso a esgotamento sanitário. Apesar da evolução nas últimas décadas, o quadro permanece preocupante e, para solucioná-lo, são necessários mais investimentos públicos continuados, enquanto a privatização desses serviços já se mostrou inadequada em diversos países, disse o relator especial das Nações Unidas sobre o tema, o brasileiro Leo Heller.

“A empresa privada não investe o suficiente e adota política de exclusão de populações mais pobres, impondo tarifas mais altas. Além disso, não atingem as metas dos contratos”, declarou Heller, lembrando que o próprio Banco Mundial, antes defensor das privatizações no saneamento, já reconheceu que as privatizações não são uma “panaceia para todos os problemas”.

As declarações de Heller têm como base estudo de 2014 que mostrou tendência global de reestastização desses serviços. Segundo o relatório, nos últimos 15 anos houve ao menos 180 casos de remunicipalização do fornecimento de água e esgoto em 35 países, em cidades como Paris (França), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Budapeste (Hungria), La Paz (Bolívia) e Maputo (Moçambique). Desse total, houve 136 casos em países de alta renda e 44 casos em países de baixa e média renda.

No mesmo período, houve um menor número de privatizações, solução adotada por Nagpur (Índia), onde a iniciativa passou por forte oposição e crítica, e Jeddah (Arábia Saudita).

O estudo, elaborado pela Unidade Internacional de Pesquisa de Serviços Públicos (PSIRU), Instituto Transnacional (TNI) e Observatório Multinacional, apontou ainda que as iniciativas de reestatização ocorreram como resposta às falsas promessas dos operadores privados e sua incapacidade de priorizar o atendimento às comunidades em detrimento do lucro, além de falta de transparência e dificuldade de monitoramento de suas atividades pelo poder público.

“Experiência direta com problemas comuns da administração privada da água — da falta de investimentos em infraestrutura, a aumentos tarifários a riscos ao meio ambiente — convenceu comunidades e autoridades de que o setor público está mais bem posicionado para fornecer serviços de qualidade a cidadãos e promover o direito humano à água”, disse o relatório das organizações.

Heller lembrou que recentemente, no Brasil, o discurso da privatização do saneamento básico voltou à tona. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou em junho que pretende ajudar o governo do estado do Rio de Janeiro a privatizar empresas, como a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE).

“O que podemos observar é um discurso forte no sentido de privatização do sistema, como grande saída para resolver o problema”, disse. “Mas não é essa a lição de experiências de privatização em outras partes do mundo. Por trás desse discurso poderíamos ler uma tentativa de afastamento do Estado em sua obrigação de oferecer saneamento”, declarou.

Avanços nos investimentos em saneamento

De acordo com o relator da ONU, houve avanços na cobertura da população atendida no Brasil por serviços de água e esgoto especialmente a partir de 2003, acompanhados de um aumento histórico do aporte de recursos financeiros do setor.

Segundo dados do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLABSAB), enquanto em 2003 foram desembolsados 1,07 bilhão de reais para saneamento em recursos não onerosos — que vêm do Orçamento da União —, esse número chegou a 3,99 bilhões em 2011.

“A política de saneamento precisa de mais continuidade (do que outras políticas públicas), requer um ciclo longo de investimentos. Quando há descontinuidade, isso é fatal”, disse Heller. “Essa é uma preocupação atual. É necessário saber em que medida o ajuste fiscal não comprometerá o que foi feito nos últimos anos”, completou.

O relator destacou como um dos avanços dos últimos anos a aprovação da Lei Nacional do Saneamento Básico, de 2007, que estabeleceu regras para a prestação de serviços e impôs a necessidade de regulação do sistema, o que acabou dando origem a diversas agências reguladoras estaduais.

“Houve certo avanço na cobertura da população. Mas tem havido a meu ver muita dificuldade de ver como o governo federal decide a aplicação de seus recursos”, disse. “O planejamento pode ser a solução, mas ainda está engatinhando”, salientou.

Dados do PLABSAB de 2010 apontam que 59,4% da população brasileira tem acesso adequado a abastecimento de água, 39,7% têm atendimento adequado a esgotamento sanitário e 58,6% têm acesso adequado a manejo de resíduos sólidos.

A maior parte da população atendida está na região Sudeste, enquanto Nordeste e Norte são as regiões mais afetadas por paralisações ou interrupções no abastecimento de água. A região Nordeste também registra o maior déficit no serviço de esgoto sanitário (30%).

“O Brasil ainda está distante dos países desenvolvidos. Mas está em situação similar aos latino-americanos, parte dos asiáticos, e ao norte da África”, afirmou o relator.

“Quando observamos os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), o Brasil aparece bem, tendo cumprido metas para água e esgoto”, explicou. “Mas a meta era pouco ambiciosa. O país a cumpriu, mas deixou grande parte da população sem acesso. A meta não previa a universalização, mas a redução pela metade do déficit.”

Segundo Heller, o direito humano à água obedece cinco princípios: disponibilidade, acessibilidade física, aceitabilidade, acessibilidade financeira e qualidade. Ele disse acreditar que esses pontos estão sendo considerados no monitoramento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda global que ocupou o lugar dos ODM.

“Tenho acompanhado discussões com OMS (Organização Mundial da Saúde) e UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), tem havido preocupação em refletir os conceitos dos direitos humanos. A declaração dos ODS fala nitidamente (desses princípios) e as metas sugerem esses conteúdos”, afirmou, completando que, diferentemente dos ODM, os ODS consideram dados desagregados, ou seja, informações regionais de acesso por classe, etnia, entre outros, não apenas médias nacionais.

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) preveem que os países alcancem, até 2030, acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos, assim como acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, além de propor o fim da defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.

Saneamento no combate ao zika

Heller lembrou que há um forte vínculo entre sistemas de saneamento deficientes e o surto atual do vírus zika, bem como a dengue, a febre amarela e o chikungunya, sendo todos eles transmitidos por mosquitos.

O relator divulgou recentemente comunicado sobre o tema junto com outros especialistas das Nações Unidas. O grupo alertou na ocasião que 100 milhões de pessoas na América Latina não têm acesso a saneamento básico e outras 70 milhões a água encanada.

“Várias ações de saneamento têm influência grande nos criadouros dos mosquitos. Se há fornecimento intermitente de água ou falta d’água, as pessoas passam a armazenar. Quando não tem esgoto, há empoçamento de água. Quando não há coleta de lixo, há sempre criadouro preferencial do mosquito. E quando não há drenagem, a água de chuva é criadouro”, declarou.

“A ação de saneamento seria eficiente e efetiva na eliminação de criadouros. E seria uma solução permanente, já que as iniciativas de combate ao vetor têm curta duração”, lembrou. “O saneamento não só combate essa epidemia, mas também outras doenças como diarreia.”

Os relatores especiais fazem parte do Procedimentos Especiais, maior órgão de peritos independentes no sistema de direitos humanos das Nações Unidas. Os especialistas trabalham numa base voluntária; não são funcionários da ONU e não recebem um salário pelo seu trabalho. São independentes de qualquer governo ou organização e prestam serviços em sua individualidade.

 

Rio assina acordo para retomar saneamento e despoluição da Baía de Guanabara

Termo de Ajustamento de Conduta foi firmado com o Ministério Público para a retomada das obras do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara e do Programa de Despoluição da região

Por O Dia

Publicado às 17h25 de 05/07/2019 – Atualizado às 17h25 de 05/07/2019

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) assinou com o Governo do Rio um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para a retomada das obras do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM) e do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) na quarta-feira.

O termo prevê quatro grandes intervenções por parte do Estado do Rio para garantir a expansão do saneamento básico e despoluir as áreas do entorno da Baía da Guanabara: Sistema Tronco Coletor Cidade Nova (fase 2), Sistema Tronco Coletor Faria Timbó, Sistema Tronco Coletor Manguinhos e Sistema Tronco Coletor Alcântara.

Após a execução das obras, previstas para o prazo máximo de quatro anos, ao menos 1,5 milhões de pessoas que vivem nas regiões afetadas serão diretamente beneficiadas e cerca de 90% dos habitantes da região metropolitana do Estado serão indiretamente beneficiados pelas medidas.

A homologação do TAC foi feita em audiência especial no Tribunal de Justiça com as presenças de integrantes do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (GAEMA-MPRJ) e do GATE do MPRJ; da Secretaria Estadual do Ambiente e Sustentabilidade; do Comitê de Bacia da Baía de Guanabara; da Cedae, e da Procuradoria Geral do Estado.

Pelo MPRJ, o acordo foi assinado pelos promotores de Justiça José Alexandre Maximino, Gisela Pequeno e Carolina Motta, além da procuradora de Justiça Rosani da Cunha Gomes, todos eles integrantes do GAEMA.

No caso da Cedae, a conclusão das tratativas tendentes a um acordo deverá se dar nos próximos 60 dias. Pela proposta discutida em audiência, a empresa se comprometerá a concluir a rede coletora do sistema Sarapuí, a requalificar a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) São Gonçalo, a realizar a ligação do sistema Paquetá à ETE São Gonçalo, a concluir o sistema de esgoto sanitário Pavuna e a finalizar a construção dos reservatórios Lote XV, Olavo Bilac e Retiro Feliz.

Todas estas intervenções deverão ter prazos estipulados e fontes orçamentárias devidamente demonstradas e garantidas, segundo a proposta.

Com a assinatura do TAC, o Governo do Estado se compromete com a destinação de reservas orçamentárias já efetuadas para o corrente ano de 2019 no valor de R$ 106 milhões, necessárias à execução das obras. Além disso, no prazo de trinta dias contados da abertura do orçamento dos anos de 2020 a 2023, deverá apresentar o planejamento das reservas orçamentárias necessárias para dar prosseguimento às obras em tais anos e ao seu respectivo fluxo financeiro. O descumprimento do compromisso implicará na aplicação de multa diária ao Estado do Rio.

Eta Guandu sem engenheiro

Por CÁSSIO BRUNO

 

O presidente da Cedae, Helio Cabral, exonerou mais de 50 funcionários. E criou um embaraço na Estação de Tratamento de Água do Guandu. Demitiu Octávio Legg Neto, o único engenheiro mecânico da estação que abastece todo o Grande Rio.