Privatizações estaduais

Os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais enfrentam dificuldades para fazer andar sua agenda de privatizações. 

No Rio de Janeiro, apesar da privatização da Cedae, oferecida como garantia ao empréstimo contraído pelo estado com o BNP Paribas no final de 2017, durante o governo de Luiz Fernando Pezão, o tema continua pendente da aprovação do novo marco regulatório do saneamento, que definirá o modelo de desestatização. 

Embora o projeto já tenha sido aprovado na Assembleia Legislativa, a privatização acabou suspensa devido às indefinições sobre o marco regulatório do saneamento, ainda em discussão no Congresso Nacional. Além da Cedae, é remota a possibilidade de avanço de novas privatizações. As estatais são deficitárias e o governador Wilson Witzel (PSC) não conta com maioria na Assembleia. 

Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB), mesmo sendo a favor do enxugamento do estado, também não avançou na agenda de privatizações. O que há, por enquanto, é um plano de privatizações, concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs) que, segundo o Palácio dos Bandeirantes, poderá atrair até R$ 37,6 bilhões aos cofres paulistas. 

Entre os planos de Doria está a privatização de todos os aeroportos do estado. Os presídios, apesar do desejo do governador de passá-los para a iniciativa privada, foram impedidos de serem vendidos, após decisão da 13ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo.

Fora os obstáculos jurídicos, será preciso negociar com a Assembleia Legislativa a aprovação de tais projetos. E Doria depende das bancadas do PSL e do NOVO, que mantêm uma postura de independência em relação ao seu governo. Mesmo com esses desafios, há espaço para o avanço da venda de estatais em São Paulo, já que PSL e NOVO são a favor das privatizações. 

No Rio Grande do Sul, os obstáculos ao avanço do tema também continuam fortes. Embora o governador Eduardo Leite (PSDB) tenha conseguido viabilizar o fim do plebiscito – uma exigência da Constituição estadual para a venda de empresas públicas – e a venda de três estatais (CEEE, CRM e Sulgás), que estão em processo de modelagem, a privatização do Banrisul (banco estadual) é cada vez mais remota. 

Diante da promessa feita por Leite na última campanha eleitoral, quando disse que não privatizaria o Banrisul, o processo se revela a cada dia mais improvável, já que enfrenta também resistências políticas. Há agências do banco nos mais de 400 municípios gaúchos, o que leva muitos prefeitos a se oporem às privatizações, principalmente porque em 2020 haverá eleições municipais. 

Não bastasse isso, conforme ocorreu no debate das privatizações da CEEE, CRM e Sulgás, Leite precisa convocar e vencer um plebiscito antes de vender o banco. Ou então aprovar na Assembleia Legislativa o fim do plebiscito, além do projeto de lei estabelecendo sua alienação. 

A grande incógnita é saber se Leite conseguirá viabilizar a adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal da União sem vender o banco. Vale recordar que seu antecessor, José Ivo Sartori (MDB), tentou a adesão ao RRF oferecendo CEEE, CRM e Sulgás como garantias, mas não foi bem-sucedido na negociação com o Ministério da Fazenda, hoje Ministério da Economia. 

Em Minas Gerais, o ambiente para as privatizações é ainda mais crítico. Apesar do desejo do governador Romeu Zema (NOVO) de aderir ao RRF da União e privatizar a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Companhia de Saneamento (Copasa) e a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), ele esbarra na exigência de aprovação da venda via plebiscito ou por uma mudança constitucional que acabe com essa obrigação. 

Como Zema governa sem maioria na Assembleia Legislativa e a opinião pública se opõe à venda da Cemig e da Copasa, é remota a possibilidade de avanço nessa agenda.

Cedae é a solução

Por Cid Curi

Engenheiro sanitarista e professor universitário

Nas últimas duas décadas, cerca de 270 cidades na Europa e nos Estados Unidos vêm reestatizando serviços como distribuição de água e saneamento. Exemplos como Nova Iorque, Budapeste, Paris, Barcelona, Sevilha e Nápoles. O maior número de casos (348) ocorreu na Alemanha, incluindo Berlim. Somente nos EUA, foram cerca de 60 cidades que “voltaram no tempo”.

Aumento desproporcional de tarifas; abandono de populações de baixa renda e de localidades com baixa densidade populacional ou distantes de centros administrativos, financeiros e/ou comerciais; descumprimento de cláusulas dos contratos de concessão principalmente pela falta de investimentos; e até má qualidade da água fornecida foram algumas das razões que levaram o poder público a decidir pela retomada desse serviço tão essencial à vida nesses países.

O Rio está fazendo um movimento inverso. E é preciso estar atento ao que essa medida significa. Por exemplo, o lucro obtido nas áreas mais ricas e de maior concentração populacional do estado – majoritariamente da capital – é usado pela Cedae para cobrir os custos nas áreas deficitárias.

É esse subsídio cruzado que beneficia e viabiliza a prestação do serviço na quase totalidade de 63 municípios entre os 64 onde a companhia realiza atendimento.

Será que os R$ 3,4 bilhões em obras que a empresa está fazendo neste momento em áreas sem retorno financeiro da Baixada Fluminense estariam acontecendo nas mãos da iniciativa privada? É óbvio que não.

A privatização do saneamento básico da cidade de Niterói não serve de exemplo. A empresa Águas de Niterói recebeu da Prefeitura de Niterói todos os ativos que eram usados pela Cedae, como tubulações, reservatórios, estações de tratamento, elevatórias etc.

Por mais de uma década, a partir da privatização nos anos de 1990, a Águas de Niterói pagou pela água à Cedae um valor três ou quatro vezes menor do que o real custo do tratamento do seu metro cúbico. Há pouco tempo, após longas negociações, é que a companhia conseguiu cobrar um valor maior, ainda assim, menor do que o real valor gasto por ela para tratar a água e transportá-la até Niterói. Assim fica fácil. Privatiza-se o lucro.

No início deste ano, a concessionária privada que atendia o município de Guapimirim abandonou o contrato, deixando 60 mil pessoas sem abastecimento. Recém empossado, o governador Wilson Witzel (PSC) determinou que a Cedae assumisse o sistema na cidade, o que aconteceu em poucas horas, evitando o caos.

Isso só foi possível porque trata-se de uma empresa pública e, como tal, serve ao cidadão e não aos interesses dos donos do capital.

Quando o calo apertou, a Cedae não foi um problema e sim, a solução. Como sempre.

Witzel planeja vender ações ou fazer concessões de serviços da Cedae

RIO — O estado pretende finalizar o trâmite de venda da Cedae — ou de pelo menos parte da empresa — em outubro do ano que vem, apenas dois meses antes do prazo dado pela União para a quitação do empréstimo de R$ 2,9 bilhões obtido em 2017 por meio do Regime de Recuperação Fiscal. O governador Wilson Witzel disse nesta sexta-feira que há duas possibilidades de destino para a companhia: a abertura ao mercado de ações ou a concessão à iniciativa privada dos serviços de água e esgoto em algumas regiões.

—A Cedae tem que ser privatizada antes de 2020, quando vence o prazo atual do Plano de Recuperação Fiscal ( que está sendo renegociado ). Podemos vender a empresa em um leilão, como também fazer um IPO ( oferta pública inicial ) da companhia para torná-la cada vez mais competitiva, transparente e eficiente — disse Wilson Witzel em uma entrevista coletiva.

A declaração contradiz o discurso de campanha de Witzel e seu posicionamento nos primeiros dias de governo, quando afirmava ser contrário à privatização. Ele mudou o tom em meio ao cenário de crise financeira e à discussão, no Congresso Nacional, de um novo marco regulatório para o saneamento, que deve ampliar o interesse da iniciativa privada na prestação de serviços. Segundo estimativas do Palácio Guanabara, o novo marco regulatório elevaria o valor da Cedae para R$ 10 bilhões.

Foi essa possibilidade que levou Witzel a pedir ao BNDES, em junho, que refizesse os estudos sobre a venda. Contratado na gestão do ex-governador Luiz Fernando Pezão para traçar a modelagem de venda da Cedae, o BNDES não havia levado em consideração a votação do novo marco regulatório em Brasília.

Ao GLOBO, o governador explicou que, caso o estado opte por vender ações, manterá o controle majoritário da companhia, com 51% das ações. Por sua vez, a opção pela privatização não seria em sua integralidade. A ideia seria fazer concessões dos serviços de água e esgoto à iniciativa privada apenas em algumas regiões do estado. Na capital, por exemplo, parte dos serviços de esgoto já foi privatizada. Mas o modelo é diferente. A prefeitura fez a concessão do serviço na área conhecida como AP 5 (Zona Oeste, menos Barra, Recreio e Jacarepaguá), de modo que uma empresa privada fatura pelo tratamento de esgoto e paga à Cedae pelo fornecimento da água.

A ideia de Witzel de vender 49% das ações da Cedae, permanecendo com o controle acionário da companhia, é vista com reservas pelo economista Frederico Turolla, da empresa de consultoria Pezo Economics.

—Se isso acontecer, o estado não terá parceiros para o negócio. O investidor privado tem que assumir o controle da empresa para fazer a reestruturação necessária. A melhor alternativa seria privatizar — disse Turolla.

Já criticado pelo Conselho de Supervisão do Regime de Recuperação Fiscal por conta de um atraso de nove meses no cronograma, o governo estadual terá que correr para cumprir o prazo de venda da Cedae e conseguir pagar o que deve. O agravante é que muitas iniciativas não dependem do Palácio Guanabara. O próprio Witzel admite que precisa aguardar o Congresso aprovar o novo marco regulatório do saneamento, o que ainda não tem data para acontecer. A proposta que modifica as regras em vigor é do senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE ). Atualmente, o projeto tramita na Câmara dos Deputados e, caso sofra modificações, ainda terá que retornar ao Senado. A versão em debate na Câmara prevê que tanto empresas públicas como privadas possam participar das concorrências. Também é possível licitar operações de serviços de água e esgoto em blocos.

O relator do projeto na Comissão Especial de Saneamento, deputado Geninho Zuliani (SP), acredita que seu parecer será votado em 15 de outubro. A expectativa é que o plenário aprecie a matéria até o dia 31 do mês que vem. No Senado, a assessoria de Jereissati prefere não fazer previsões. Após a sanção presidencial, a Agência Nacional de Águas (ANA) ainda vai regulamentar detalhes da lei.

Há ainda outras questões a serem resolvidas nos próprios limites do estado. Desde o fim de 2018, quando passou a vigorar a lei que criou o Instituto Rio Metrópole , o planejamento de programas estratégicos depende de análise prévia das 22 prefeituras que integram a região, por serem atividades que podem afetar diretamente o dia a dia das cidades. Decisões, inclusive sobre a Cedae, são tomadas pelo governador (que preside o órgão) e representantes das prefeituras e da sociedade civil. O número de votos é proporcional à população das cidades.

Seja qual for o modelo, a privatização da Cedae é quase inevitável, como admitem fontes do Palácio Guanabara, porque, mesmo que Witzel consiga aprovar no Ministério da Economia as mudanças que deseja no Regime de Recuperação Fiscal, ainda terá dificuldades para equilibrar as contas. O estado precisa de cerca de R$ 4 bilhões (levando-se em conta juros acumulados) para honrar um empréstimo com o Banco BNP Paribas, firmado no fim de 2017. Na época, o governo colocou salários em dia e usou a Cedae como garantia de pagamento.

 

Witzel confirma privatização da Cedae

RIO — Um dia depois de o governo anunciar as medidas apresentadas para tentar revisar o Regimento de Recuperação Fiscal do Rio, o governador Wilson Witzel anunciou, nesta sexta-feira, que a privatização da Cedae acontecerá até o outubro do ano que vem. Segundo ele, a privatização depende do marco regulatório do saneamento, que ainda não foi votado na Câmara dos Deputados. A companhia é a contrapartida de um empréstimo, tomado em 2017, do Estado com o Banco BNP Paribas, de R$2,9 bilhões, principal medida da recuperação fiscal.

— Estamos caminhando a passos largos com a privatização da Cedae, aguardando agora o marco regulatório do Saneamento na Câmara dos Deputados, que era para ser votado em agosto, ficou para setembro e agora está ficando para outubro. Mas pedi ao Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados) celeridade ao processo de votação, porque, ao privatizarmos a concessão de saneamento da Cedae, teremos em três anos, na Região Metropolitana, R$ 10 bilhões em obras para saneamento, resolvendo definitivamente o problema da poluição das baías, especialmente da Guanabara — disse o governador, acrescentando a possibilidade de realizar também o IPO (Oferta Pública Inicial) da Cedae “para torná-la cada vez mais competitiva, transparente e eficiente”.

 

Empresa estaduais de saneamento são ameaçadas de privatização

por Camila Marins

Em alguns estados do Brasil, as empresas de saneamento estão ameaçadas de privatização. Isso porque os governos insistem na narrativa de déficit dos cofres públicos. Dois casos têm chamado atenção da sociedade: a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) e Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso). O Diário Oficial do Estado de Sergipe publicou, na edição de 1º de julho, o edital de chamamento público nº 06/2019, da Agência Reguladora de Serviços Públicos (Agrese), para deflagrar um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para a elaboração de estudos que demonstrem a viabilidade técnica, econômico-financeira e jurídica para estruturação dos serviços de fornecimento de água e esgotamento sanitário.

Parlamentares, movimentos sociais e sindicatos argumentam que este é o primeiro passo para uma futura privatização da Deso, órgão responsável pelo fornecimento de água no Estado. O engenheiro e presidente do Sindicato dos Engenheiros de Sergipe (Senge-SE), Sérgio Maurício Mendonça, acredita que a privatização trará imensos prejuízos à sociedade sergipana, além de colocar em risco o emprego de diversos funcionários da empresa. “Os danos para a engenharia seriam muito sérios pois, uma vez privatizada, a Deso daria prioridade ao lucro, precarizando os aspectos técnicos do processo de distribuição de água”, informou. Sérgio Maurício ainda alertou que o Senge-SE fará reuniões com os engenheiros da Deso para balizar as ações em defesa da empresa.

Já no Rio de Janeiro, a Cedae, sob o argumento de quitação de empréstimo no valor de R$ 2,9 bilhões feito junto ao banco BNP Paribas, uma vez que a empresa foi incluída no Regime de Recuperação Fiscal. Se o estado não tiver condições de quitar o empréstimo a partir de 2020, o Tesouro Nacional pode tomar as ações da estatal. Com o objetivo de evitar a privatização da Cedae, o deputado estadual André Ceciliano protocolou um Projeto de Lei (PL), em julho deste ano, para retirar a empresa do Regime de Recuperação Fiscal celebrado entre estado e União em 2017. Previsto para ser votado no plenário em setembro, o PL prevê que, para poupar a Cedae, os recursos dos royalties de petróleo passem a ser usados como garantia. Confira a entrevista com o deputado.

Quais as perspectivas de aprovação do projeto?

Quando a Cedae foi dada em garantia para que o estado do Rio aderisse ao Plano de Recuperação Fiscal vivíamos outro momento. Tínhamos um quadro crítico nas finanças do estado com salários em atraso, serviços sendo paralisados e uma ameaça grande na área da Segurança Pública, com policiais sem salários e condições de trabalho. Agora, além do aumento na arrecadação, com o dólar valorizado e o preço do barril do petróleo lá em cima, este cenário é bem diferente. A previsão só para este ano é de R$ 20 bilhões a mais de receitas com royalties. Por isso, acredito que teremos capacidade financeira de arcar com essa garantia, prevista no Acordo de Recuperação Fiscal, sem precisar abrir mão de um ativo importante para o estado do Rio.

Qual a importância da Cedae como empresa pública para o estado do Rio de Janeiro?

A Cedae está dando mais de R$ 800 milhões de lucro por ano e, por isso, é bom que preservemos essa empresa para o estado.

Quais são os principais eixos do seu PL?

O eixo central da proposta é a substituição de uma garantia por outra sem ferir o Plano de Recuperação. O projeto pretende autorizar o pagamento do empréstimo de R$ 2,9 bilhões contraído pelo estado junto ao banco BNP Paribas pela arrecadação de royalties. A receita do petróleo e as participações especiais tiveram um expressivo aumento em comparação ao mesmo quadrimestre do ano anterior. A estimativa é de uma elevação de mais de 100%, saindo de menos de três bilhões de reais em abril de 2018 para mais de seis bilhões em 2019, o que justifica o emprego desses recursos no pagamento da parcela do empréstimo. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a arrecadação será crescente nos próximos cinco anos, saindo de cerca de cinco bilhões de reais para oito bilhões.

 

NO CONGRESSO NACIONAL, MOVIMENTOS PRESSIONAM CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO SANEAMENTO

Depois de aprovado pelo Senado, em regime de urgência, o Projeto de Lei (PL) 3.261/2019 tramita na Câmara dos Deputados. O texto abrirá espaço para a privatização dos serviços de água e esgoto no país. A proposta reproduz o conteúdo da Medida Provisória (MPV) 868/2018, editada durante o governo de Michel Temer, que perdeu validade no dia 3 de junho, após pressão dos movimentos sociais e sindicais. “Em um país com mais de 55 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, privatizar o saneamento é prejudicar e condenar os pobres e o meio ambiente. A ordem do dia é derrubar o PL 3.261 por ser, sobretudo, inconstitucional e continuar a luta para que o saneamento brasileiro possa avançar rumo à universalização”, alertou o engenheiro e presidente da Fisenge, Clovis Nascimento.

Apesar de prazo curto, estado pede nova modelagem para venda da Cedae

Paulo Cappelli

26/08/2019 – 04:30 / Atualizado em 26/08/2019 – 07:50

O Rio tem até setembro do ano que vem para privatizar a Cedae e pagar o empréstimo bilionário obtido no âmbito do Regime de Recuperação Fiscal com a União. Mas, a aproximadamente um ano para o fim do prazo, o Palácio Guanabara pediu ao BNDES que refaça o estudo técnico que norteia o modelo de desestatização da empresa. O relatório original começou a ser produzido em fevereiro de 2018 e, há dois meses, chegou às mãos do governador Wilson Witzel. Segundo fontes da administração estadual, o documento precisaria ser refeito porque não previa a possibilidade de aprovação no Congresso do Projeto de Lei do Saneamento Básico. Na avaliação de autoridades fluminenses, o novo marco regulatório para o setor, que continua em debate em Brasília, poderá valorizar a companhia de água e esgoto em bilhões de reais.

O tempo para que todo o processo transcorra, no entanto, é um obstáculo. Por um lado, o estado aguarda a votação do projeto de lei para vender a Cedae por um preço mais alto; por outro, precisa botar o pé no acelerador. Caso a desestatização não aconteça até setembro de 2020, a empresa passará automaticamente para as mãos do governo federal, credor do empréstimo de R$ 2,9 bilhões adquiridos pelo Rio em 2017, na transação com o banco francês BNP Paribas.

Trâmites demorados

Especialistas ouvidos pelo GLOBO veem com preocupação o pedido de remodelagem feito pelo estado frente ao prazo estipulado para a privatização. Segundo eles, há risco de a desestatização não ser concluída no período previsto.— Depois de lançado o edital, acredito que uma privatização desse porte levaria entre um e dois anos para ser finalizada. É uma operação muito complexa, porque envolve várias partes — avalia o advogado especialista em licitações Fabiano Diefenthaeler, do escritório N. Tomaz Braga & Schuch Advogados Associados.

— Numa empresa com o vulto da Cedae, muitos fatores têm que ser levados em consideração, como a realização de audiências públicas nos municípios afetados, já que estamos falando de um serviço público. Há ainda uma enorme probabilidade de interessados entrarem na Justiça para tentar impugnar o edital, o que pode retardar a licitação. Esse edital também terá de ser submetido ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), que precisará de algum tempo para emitir o parecer. Eu diria que o tempo médio seria de um ano — avalia.

Diretor e integrante do conselho do grupo Águas do Brasil, vencedor da concessão em Niterói, em 1999, Carlos Henrique da Cruz Lima lembra que, no município, foram necessários três anos entre o lançamento do edital de licitação e o início da operação pela empresa, por conta de imbróglios judiciais. Ele acredita que será preciso no mínimo um ano para, após a publicação do edital, a Cedae ser privatizada.

— Nunca houve uma privatização dessa envergadura no Brasil. A Cedae é uma das maiores empresas de saneamento do país. A Sabesp, de São Paulo, colocou ações na bolsa de valores, mas não chegou a ser privatizada — diz ele.

União não foi consultada

Procurado, o Conselho de Supervisão do Regime de Recuperação Fiscal, ligado ao Ministério da Economia, afirmou que não foi consultado sobre o pedido do governo estadual para que o BNDES refaça a modelagem que havia sido apresentada. Em maio, o conselho já tinha relatado um atraso de nove meses por parte do Palácio Guanabara no cronograma previsto para a licitação da Cedae.

O conselho acredita que uma nova modelagem “implicará alteração dos resultados já obtidos” e, portanto, “necessariamente ocorrerá um atraso além do mencionado”. A União lembrou que, caso o Palácio Guanabara não privatize a Cedae nem quite o empréstimo por outro meio, a empresa passará automaticamente para o governo federal, que efetuará o pagamento ao banco francês.

Secretário estadual de Fazenda, Luiz Claudio Rodrigues de Carvalho defende a cautela adotada pelo governo fluminense na privatização da Cedae.

— Não faz sentido avançarmos na privatização antes de o Projeto de Lei do Saneamento ser aprovado em Brasília. A simples indefinição do novo marco regulatório joga o valor da Cedae para baixo. O melhor é esperar — afirmou o secretário.

Apesar do atraso, o Palácio Guanabara afirmou que cumprirá os prazos estabelecidos no contrato. “O governo está refazendo a modelagem com o BNDES, para apresentar ao mercado o modelo de negócio da Cedae”, informou, por meio de nota.

Um primeiro projeto que cria o novo marco regulatório para o saneamento básico foi aprovado em junho pelo Senado e seguiu para a Câmara dos Deputados. Antes de o texto ser analisado pela Casa, no entanto, uma outra proposta sobre o mesmo assunto foi enviada ao Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro, no começo deste mês. O projeto do Executivo federal, que ajudaria a turbinar o valor da Cedae, prevê que empresas privadas também possam participar de licitações para prestar serviço de saneamento básico a prefeituras. Atualmente, municípios precisam fechar contrato com companhias estaduais públicas. Concessões do serviço para empresas privadas, como em Niterói, só puderam ser firmadas antes do atual marco regulatório, estabelecido em 2007.

Um problema para o governo Witzel é que, embora o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seja favorável à medida, ainda não há previsão de data para que o novo marco do saneamento seja votado. Na última quarta-feira, a Casa instalou uma comissão especial para analisar as propostas. O relatório ainda será votado internamente, na própria comissão, antes de ser submetido ao plenário da Câmara. Dependendo do que a Casa decidir, o texto terá que ser submetido mais uma vez ao Senado.

Projetos estratégicos para Governo do Estado ainda dependem de aprovação de conselho consultivo

 

 A privatização da Cedae, a licitação dos ônibus intermunicipais, novos investimentos para despoluir a Baía de Guanabara e programas habitacionais para população de baixa renda estão entre os projetos estratégicos do governo do estado. No entanto, a forma com que esses projetos serão implantados segue em compasso de espera. Desde o fim de 2018, quando entrou em vigor a lei que criou o Instituto Rio Metrópole, o planejamento de programas estratégicos depende de análise prévia das 22 prefeituras que integram a região, já que são programas que podem afetar diretamente o dia-a-dia dessas cidades. Ou seja, no caso do estado realmente tentar privatizar a Cedae, as regras teriam que ser analisadas também pelos municípios. Mas o conselho deliberativo, formado pelo governador Wilson Witzel  e os prefeitos só se reuniu uma única vez para discutir a base jurídica da instituição. Esses temas só começarão a ser tratados em uma reunião prevista para setembro.

 Mais cedo, O GLOBO publicou que o conselho jamais havia se reunido. No início da tarde, o Palácio Guanabara divulgou uma nota na qual esclareceu que, no dia 27 de fevereiro, houve uma reunião de instalação do conselho no Centro de Comando e Controle, na Cidade Nova. Nesse encontro, ficou determinada a elaboração da base legal da entidade, que ainda terá que ser aprovada pelo Conselho Delberativo. Esses documentos deverão ser referendados em uma reunião no dia 18 de setembro. Nesse dia, também haverá discussão com os prefeitos sobre mobilidade urbana, saneamento e habitação.

Pelas regras do Instituto Rio Metrópole, as decisões sobre investimentos e políticas públicas que atingem mais de uma cidade da região em áreas como infraestrutura, saúde e saneamento são tomadas por um órgão deliberativo e têm que passar pelo governador (que preside o órgão) e os 22 prefeitos. Ao todo, são 49 conselheiros, mas para as deliberações, as decisões seguem um critério misto. O número de votos é proporcional à população de cada cidade, e a sociedade civil também tem três assentos. A maior influência é exercida pelo governo do Estado (25% dos votos) e a capital (15%). As medidas só serão aprovadas com 60% dos votos e o apoio de metade dos conselheiros contados individualmente. A previsão é que a entidade se reúna pelo menos uma vez por semestre.

Em meio a esse processo, há ainda um componente de insegurança jurídica. Após não conseguir levar a frente o projeto de fazer uma concessão da implantação de redes de esgotos na chamada AP-4 (Barra, Recreio e Jacarepaguá) justamente porque a questão deveria ser analisada de forma integrada, o prefeito Marcelo Crivella entrou em maio com uma ação de inconstitucionalidade contra Lei Complementar 184/2018, que criou o Instituto Rio Metrópole. Na ação, o prefeito questiona a ingerência do estado sobre questões da capital. O processo ainda não tem prazo para ser julgado pelo Órgão Especial.

A capital tem mais pendências. Uma das mais urgentes é definir o futuro do corredor de BRT Transbrasil, que vai ligar Deodoro ao Centro. Só que o Instituto Rio Metrópole tem que deliberar sobre eventual reorganização das linhas intermunicipais que chegam ao Rio. Sem que seja batido o martelo, por exemplo, as linhas da Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo que vão continuar a operar no Terminal Américo Fontenelle (Central do Brasil) impedem que o Sindicato das Empresas de ônibus do Rio (Rio Ônibus) dimensione e compre coletivos articulados para operar a frota. Uma das consequências desse atraso é que a prefeitura decidiu iniciar a operação do corredor de BRT (que custou R$ 1,4 bilhão em obras que já duram cinco anos) como um corredor de BRS. Mesmo sem definição, no dia 1º de agosto, o município assinou um aditivo de R$ 255,7 milhões para construir dois terminais de integração nos trevos das Margaridas e das Missões.

— As questões que precisam ser debatidas envolvem todas as prefeituras da região metropolitana. Sem essa discussão, programas importantes não podem ser levados adiante — diz o coordenador-executivo da Casa Fluminense, Henrique Silveira, que preside um conselho de caráter consultivo da entidade, formado por representantes da Sociedade Civil.

O secretário de governo, Claiton Rodrigues, diz que as discussões do conselho vão começar em breve com a participação dos prefeitos:

— Isso não vai prejudicar o andamento dos projetos. Não há atraso. O prazo é razoável. O problema é que encontramos o estado em uma situação difícil, que exigiu reestruturações administrativas.

 O deputado Waldeck Carneiro (PT), que preside uma comissão especial que acompanha o processo, lamenta a indefinição:

— Essa situação é ruim para a definição de políticas públicas. Se o governo do estado quer fazer a concessão da Cedae, vai ter que discutir com os municípios primeiro, por exemplo. Na mesma situação, estão estratégias para sanear a Baixada  — disse Waldeck.

O prefeito de Caxias, Washington Reis (MDB) observa que a legislação estabelece restrições de despesas para o último ano de governo, o que pode vir a ser um problema. A lei que regulamentou a criação do conselho prevê, por exemplo, que os municípios podem ratear despesas para a execução de projetos considerados prioritários no conselho.

— Vamos supor que alguma deliberação exija despesas de longo prazo dos municípios. A implantação dos programas vai exigir que o prefeito tenha recursos em caixa para o sucessor. Isso pode ser um problema, porque as prefeituras ainda enfrentam dificuldades financeiras por causa da crise econômica — disse Washington Reis.

O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT) também tem pendências. Uma delas é justamente com o BRT Transbrasil, que pode exigir mudanças nos itinerários das linhas que vêm da cidade em direção ao Rio.

— Diferente de estados como Minas e São Paulo, o Rio tem cerca de 70% de sua população vivendo na região metropolitana. Mas a cidade não é uma ilha. O desafio é viabilizar uma governança compartilhada para superar problemas históricos, como por exemplo, a poluição da Baía de Guanabara e a mobilidade urbana — disse Neves.

Hoje, nem mesmo o site da Câmara Metropolitana (que antecedeu o formato atual), criado quando as discussões sobre a entidade começaram na Alerj em 2015, é atualizado. Na última notícia que consta na página, a informação se refere a uma reunião com o ex-governador Francisco Dornelles. A informação sobre a composição do órgão ainda são de 2018.

Procurada desde sábado, a prefeitura do Rio não se manifestou.

 

 

 

Autoritarismo na Cedae: demissões e suspensões de dirigentes sindicais

Publicado em 02/08/2019

A CTB-RJ manifestou em nota o repúdio com veemência a atitude autoritária da direção da Cedae com o Sintsama-RJ ao suspender o presidente, o secretário de finanças e o Secretário e o Secretário de Organização do sindicato.

Além das suspensões, a Cedae demitiu quatro dirigentes do Sintsama-RJ, num claro ataque à organização sindical com objetivo de enfraquecer a luta contra a privatização do saneamento, haja vista que o Sintsama tem sido protagonista na defesa do saneamento público do Rio de Janeiro.

Esta atitude autoritária do Cedae na tentativa de criminalizar o movimento sindical não vai inibir a luta. A CTB-RJ exige em nota o fim do assédio moral e anulação dos processos contra os dirigentes, bem como das demissões de dirigentes sindicais efetuadas nos últimos tempos.

O Sintaema se solidariza com os companheiros e companheiras do Sintsama-RJ e avisa: estamos juntos com vocês contra esta arbitrariedade!

 

Cedae tenta se manter em Macaé por meio da judicialização

por Viu Online – 02/08/2019

Depois de perder a concessão para explorar os serviços de tratamento e distribuição de água em Macaé (RJ), no Norte Fluminense, a Cedae está judicializando a discussão.

A empresa tenta permanecer com os serviços por meio de uma decisão monocrática da 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). Mas a Procuradoria Geral do Município já apresentou, há cerca de 10 dias, recurso contra a decisão.

A Procuradoria argumenta que o convênio da Cedae é nulo, com base no artigo 10 da Lei Federal 11.445/2007.

ENTENDA O CASO

A Cedae foi concessionária dos serviços de tratamento e distribuição de água por mais de 40 anos em Macaé, mas os consumidores pagavam a conta de água e conviviam com escassez nas torneiras.

O Prefeito Aluízio Júnior cancelou o convênio por meio de decreto, posteriormente ratificado pela Câmara de Vereadores. Após o encerramento do contrato, a Prefeitura implantou o programa de tarifa zero, que foi aprovada pelos moradores em Consulta Pública realizada no dia 28 de julho. A votação foi fiscalizada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ).

Devido a estratégia de judicialização adotada pela Cedae, a prefeitura autorizou a cobrança do consumo de água a partir de setembro.

A cobrança constará no consumo da BRK Ambiental, concessionária dos serviços de esgoto, mas será fiscalizada pela Procuradoria Adjunta de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Em comunicado oficial, a empresa anunciou que começará a fazer a leitura dos hidrômetros a partir do mês de agosto.

Regime de Recuperação Fiscal pode decretar fim da relação de Witzel com Bolsonaro

Por CÁSSIO BRUNO

 

RIO – A pá de cal na abalada relação do governador Wilson Witzel (PSC) com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) pode ser a tentativa de renegociação do Regime de Recuperação Fiscal do Estado com a União. Tudo indica que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, botará água no chope na proposta encaminhada pelo Palácio Guanabara. Caso isso seja confirmado e Witzel cumpra com o que prometeu em junho, o governo federal será acionado na Justiça, dificultando ainda mais a possibilidade da já distante aliança entre PSC e PSL nas próximas eleições municipais.

ALERJ É A PEDRA NO SAPATO DE WITZEL 

No acordo, a Cedae foi posta como garantia para pagar um empréstimo de R$ 2,9 bilhões com o banco PNB Paribas, contrato garantido pelo governo federal tendo como contragarantia ações da estatal. À época, o então governador Luiz Fernando Pezão (MDB) usou o dinheiro para pagar salários atrasados de servidores. A privatização da Cedae seria a solução, mas sofre resistência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), onde a vida de Wilson Witzel não é nada tranquila. O governador não tem base ampla de apoio, por enquanto.

CARNAVAL COMO UM DIVISOR DE ÁGUAS 

Quem Witzel apoiará? A reeleição do prefeito Marcelo Crivella (PRB), o deputado Rodrigo Amorim (PSL), o secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes (PSC), ou nenhum deles? Apesar dos sinais públicos de prestígio a Fernandes, nos bastidores o governador pede calma e diz que quer “deixar as coisas acontecerem”. Quer ganhar tempo para resolver pendências com Crivella: o comando ofi cial do carnaval e convencer o prefeito a não devolver ao estado dois hospitais municipalizados.

OS INDICADOS DO CLÃ DOS FERNANDES 

Pelo menos três indicados do secretario de Educação, Pedro Fernandes, passaram pelo comando da Secretaria de Assistência Social, então responsável pela Fundação Leão XIII, alvo da Operação Catarata. Além do deputado Sérgio Fernandes, estiveram lá João Carlos Mariano Santos Costa (recém-nomeado subsecretário por Witzel) e João Marcos Matos. Pedro afirmou que não tomou conhecimento de irregularidades na instituição.

UM TRABALHO PARA A CPI 

A pergunta que não quer calar: a CPI do Gás, na Alerj, investigará o terceiro termo aditivo do contrato entre a CEG e a Agenersa (agência reguladora do estado) por mais de R$ 600 milhões em dezembro de 2014?

A TURMA QUE PARTICIPOU 

A condução foi feita pelo então procurador-geral Leonardo Espíndola e por Afonso Monnerat, ex-secretário e preso na Furna da Onça. Quem assinou: Pezão, concessionária e o ex-presidente da Agenersa José Bismarck.

PRESO É FILHO DE POLICIAL 

Preso anteontem na Operação Catarata por suspeita de participar de um esquema de fraude em licitações na Fundação Leão XIII, Flávio Chadud é filho do delegado da Polícia Civil, Mário Chadud.

MACONHA RUMO A PAQUETÁ 

Witzel defendeu levar para delegacia quem fumar maconha na praia. Moradores de Paquetá querem saber se ele daria a mesma ordem para coibir o uso da droga nas barcas que vão para o bairro, onde há vários usuários.

DE OLHO NA REELEIÇÃO? 

A Câmara de Nova Iguaçu aprovou empréstimo de R$ 146 milhões na Caixa para obras. Mas o prazo para pagar não é claro no projeto de lei do prefeito Rogério Lisboa (PR).

PICADINHO 

Hoje, o Centro Universitário IBMR realiza palestra gratuita sobre os povos quilombolas. Às 17h, na sala 3 do Campus Barra do IBMR.

O monólogo ‘Borderline’ comemora cinco anos em cartaz e reestreia amanhã, 20h, na Cidade das Artes, Barra da Tijuca.

A atração ‘Mundo Gloob’ estará no Caxias Shopping de amanhã até o dia 18. Gratuito.

DESCE

WALTER FARIA

Dono do grupo Petrópolis é alvo de mandado de prisão por lavagem de dinheiro desviado pela Odebrecht.

DESCE

DARIO MESSER

Foragido desde o ano passado, o “doleiro dos doleiros” foi preso pela Polícia Federal ontem em São Paulo.